O
câncer de mama é o tumor maligno mais comum entre as mulheres e o que mais leva
as brasileiras à morte
Lene Fernandes
Com
mais de dois milhões de casos detectados por ano no Brasil, o câncer de mama é
caracterizado pelo crescimento rápido e desordenado das células, que adquirem a
capacidade de se multiplicarem tornando-se agressivas e incontroláveis,
determinando a formação de tumores malignos, podendo até mesmo se espalhar por
outras regiões do corpo.
Segundo
o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama é um tumor maligno mais
comum em mulheres, sendo o que mais leva as brasileiras à morte.
O
câncer de mama é raro antes dos 35 anos, mais acima dessa idade os casos
crescem de forma rápida e progressiva, porém nem todo tumor de mama é maligno,
e apesar de o maior número de casos serem em mulheres, também podem ocorrer em
homens mesmo que seja em quantidade bem menor.
Embora
já se tenham muitas inovações sobre o tratamento de pessoas diagnosticadas
com neoplasia, muitos estudos ainda
estão sendo feitos, visando a descoberta de novos medicamentos eficazes contra
o câncer.
Julio
Cesar A. Cardoso, é formado em Química com bacharelado em tecnologia pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, Julio foi bolsista do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, como
trabalho de conclusão de curso desenvolveu uma pesquisa chamada “Simulação de
Fármacos com Candidatos à Agente Antitumoral”, isso sob a orientação de um
Físico com especialização em Química Quântica da UFMS.
Apesar
de sua formação em Química, ele optou por realizar sua pesquisa no laboratório
de Química Molecular/ Computacional, por ser uma área multidisciplinar. Dentro desse laboratório chamado Labimol, que
foi elaborado por físicos da Universidade mesmo, estão envolvidos vários
profissionais, como Matemáticos, Físicos, Químicos, Biólogos entre outros. Esse
laboratório foi utilizado para elaborar apenas uma fase desse estudo.
A
essência de sua pesquisa era estudar modelos de proteínas computacionais já
existentes em Banco de Dados na internet e encontrar moléculas que pudessem ter
uma interação com a proteína do câncer e bloqueá-la. “O objetivo da pesquisa
era o de fazer a célula cancerígena morrer ou impedi-la de crescer”, comenta.
Segundo ele, o câncer é um defeito que
acontece na parede da célula, como ela não possui uma boca para alimentação e
respiração, ela faz trocas químicas com o sangue pela sua parede, é através
dessa parede que são feitas as troca de substâncias. Dentro dessas paredes
existem os Telômeros, que são guias que fazem tanto com que as células se
movimentem, como com que elas absorvam as substâncias que estão no sangue e
levem para dentro das células, fazendo com isso que elas se alimentem ou respirem.
“O
Telômero tende a ser seletivo, ou seja, ele absorve somente as substâncias que
irão fazer bem para a célula, porém quando há um defeito no Telômero, são
absorvidas substâncias que irão fazer mal para aquela célula. Então uma célula
que cresceu e tem um Telômero defeituoso, como consequência seu crescimento
também vai ser defeituoso. Conclui se então que o câncer é a célula com
defeito”.
Ainda
segundo o químico Julio Araujo, o Telômero é uma proteína e a toda proteína é
composta por um conjunto de várias moléculas, que pode ter de 1.000 à 5.000
átomos, todos organizados em um espaço. A proteína não é rígida, ela é como se
fosse uma mão e abraça uma molécula ou estrutura, a forma com que ela abraça é
que vai determinar se ela a célula vai desenvolver ou não.
“O
objetivo da minha pesquisa foi descobrir moléculas de medicamentos que se
encaixassem na proteína e evitassem que outras substâncias mudassem sua
estrutura. Nós já conhecemos a proteína para alguns tipos de câncer
específicos, a forma com ele abraça pode ter um efeito na célula, em alguns
casos, elas abraçam de tal forma que pode ser mortal, isso determinará se ela
vai desenvolver ou não, ela passa a não se alimentar direito e criar outras
células do mesmo padrão que ela”.
“Uma
célula depende de outra para existir ou desenvolver, ela se duplica, divide-se
em duas partes criando uma nova, ela pega o seu código que está no seu centro e
copia para poder criar novas com aquele mesmo código, se ela tem defeito, ela
cria uma célula defeituosa, consequentemente a nova que foi criada também cria
outra célula com defeito, e isso é o câncer”.
Dentre
milhares de proteínas existentes no Banco de Dados, Julio encontrou a proteína
do câncer de mama, que é complexada com o Tamoxifeno, um medicamento utilizado
atualmente no combate ao câncer de mama, porém, segundo ele, somente é
utilizado como última alternativa, pelo fato de ser muito bom no combate ao
câncer de mama, mas ter efeito colateral em algumas mulheres, podendo causar o
câncer no útero. “Há um risco de a mulher curar o câncer de mama e passar a ter
um câncer no útero”.
Para
Julio o câncer é muito complexo, pois a própria célula pode gerar um Telômero
defeituoso sem ter sequer algum efeito do ambiente e do sangue, pois na hora de
fazer à replicação, a célula pega o DNA, quebra se desfaz, e depois se
reconstrói. “Então a nova célula formada vai depender daquele código para ter
uma nova estrutura, a sua estrutura será baseada naquilo, por isso, em alguns
casos elas se formam com defeito, sendo assim, ela vai passando esse defeito
pra frente”.
Segundo
ele, nos casos em que uma pessoa com câncer vai a óbito é porque ela já possui
tantas células com câncer no corpo que o processo é irreversível, ele vai sendo
contínuo e rápido, “por mais que você consiga matar células cancerígenas, já
existem muitas outras o suficiente para se duplicar, nesse caso, o processo de
duplicação é bem maior do que o de remediação, então a pessoa perde a luta
mesmo!”, comenta.
Então
a sua participação nessa pesquisa tão complexa, foi encontrar uma proteína que
fosse de câncer que tivesse medicamento, ou que tivesse uma substância
cancerígena lá dentro dela. Após encontrar a proteína já com o medicamento dentro,
a estrutura do medicamento foi retirada, a partir daí começou a desenhar
modelos de moléculas que não existiam e que fossem parecidas com a estrutura do
Tamoxifeno. Essas moléculas foram colocadas em uma estrutura próxima onde
estava o Tamoxifeno e através da utilização de um programa computacional foram
fetos testes para saber se haveria interação ou não.
“Foram testadas 20 moléculas de várias
posições, dentre essas vintes que foram testadas 4 tiveram interação, ou seja,4
reagiram bem aos testes, dessa forma a minha parte da pesquisa foi finalizada”.
“A
segunda fase dessa pesquisa seria ir para o laboratório novamente e “criar”
essas moléculas que foram desenhadas através de testes reais. Dessa forma, a
pesquisa continuará sendo desenvolvida por outra pessoa em outra fase, até que
se chegue à conclusão final. O trabalho de um pesquisador muitas vezes é assim,
é necessário vários estágios para chegar a uma conclusão, sendo que cada uma
dessas partes tem a sua particular importância.