Queda na arrecadação da Previdência Social pode estar ligada a fiscalização ineficiente

Estudo aponta saldo positivo de R$ 80 bilhões em relação a gastos com previdência e problemas camuflados para sua inconstância

Ariel Dorneles

Foto: Divulgação
Um estudo realizado pela ANFIP (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasi) divulgou que em 2014 houve um ganho de mais de R$ 80 bilhões na arrecadação da previdência privada. O estudo vai contra a divulgação recente de déficit no sistema de Seguridade Social e Previdência Urbana, que justificaria futuras restrições e maiores carências do direito aos benefícios.

Odilon Guedes, professor do Departamento de Economia das Faculdades Oswaldo Cruz, da Faculdade de Economia e do curso de pós-graduação em Gerente de Cidade da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em recente divulgação ao Le Monde Diplomatique Brasil (publicação da associação Palavra Livre em parceria com o Instituto Pólis), observa que os dados colhidos pela Anfip devem ser parecidos com os de 2016.

Para Odilon, não há uma necessidade de restrição da Previdência Social para conter gastos e, assim, controlar a economia, mas sim estabelecer uma fiscalização mais eficiente nas empresas que deixaram de contribuir, colaborando para a instalação de um caos de curto e médio prazo no setor econômico e trabalhista.

Segundo a economista Lena Lavinas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), somente nas desonerações de empresas quanto a contribuição sindical foram perdidos R$ 136 bilhões em 2014. Já a sonegação fiscal contribuiu para a perda de mais de R$ 300 bilhões.
Guedes sugere que uma fiscalização mais rigorosa por parte do governo bem como uma reavaliação da priorização do pagamento de juros da dívida pública, que deve chegar a R$ 600 bilhões ainda em 2016, é um caminho não só alternativo, mas mais eficiente para uma organização econômico-social.

A formalização do trabalho assalariado sem carteira assinada, o fim das remunerações a mais não discriminadas na folha de pagamento, o repasse da responsabilidade das despesas com acidentes de trabalho para as empresas são algumas soluções encontradas pelos estudos do economista José Dari Krein e do auditor fiscal do Trabalho Vitor Araújo Filgueiras – pesquisadores do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Ao contrário do que se é propagado, a responsabilização da Seguridade Social e Previdência por gastos superiores ao arrecadado, e assim um comprometimento do Tesouro Nacional, não reflete unicamente na atual realidade econômica caótica. Em torno de 80% do déficit do setor público em 2015, o que corresponde a R$ 500 bilhões, vem do pagamento de juros da dívida pública, sendo esse o verdadeiro mote da questão econômica atual. Fazendo ser necessário uma reavaliação plural e mais apurada das prioridades, necessidades dos gastos com o dinheiro público.
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