O Paraguai se tornou um parceiro estratégico para as empresas que pretendem baratear os custos da produção em um momento de forte crise da indústria brasileira
Lene Fernandes
Em
busca de mão de obra mais barata e de impostos menores, empresas brasileiras de
diferentes setores estão cruzando a fronteira e instalando filiais em nosso
vizinho, que hoje é um dos países que mais cresce.
O
Paraguai se tornou um parceiro estratégico para as empresas que pretendem
baratear os custos da produção em um momento de forte crise da indústria
brasileira.
O principal atrativo
para os brasileiros é a chamada Lei de Maquila, essa lei foi criada há mais de
15 anos e prevê isenção de impostos para empresas estrangeiras na importação de
maquinários e matéria-prima, desde que o produto final seja exportado. Sendo
cobrado apenas tributo de 1% sobre a fatura de exportação quando a mercadoria
deixa o Paraguai.
A iniciativa do governo paraguaio em
atrair empresas brasileiras para o seu território vem preocupando o governo
brasileiro, sendo um dos principais temas de debate na reunião da Comissão de
Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
O Brasil
perde empresas e empregos e isso acende um alerta para nossa economia. No total
o Paraguai já atraiu 116 empresas estrangeiras, 80% delas brasileiras,
especialistas afirmam que o Brasil precisa fazer o quanto antes as reformas,
tributária e trabalhista.
A fábrica do empresário
Zenildo Costa no Brasil faliu. Ele decidiu atravessar a fronteira para produzir
aventais descartáveis de uso hospitalar. “Se fosse no Brasil, a energia
elétrica custaria 70% mais caro, o funcionário custaria o dobro e a matéria
prima eu estaria pagando 35% de imposto para importar da China”, diz o
empresário.
“As empresas
brasileiras têm encontrado no Paraguai uma ambiência interessante para
desenvolver integração produtiva, ou seja, manter as suas operações no Brasil e
fortalecer essas operações no que diz respeito a design,
inteligência do processo produtivo, e produzir, finalizar o produto no
Paraguai”, explica Sarah Saldanha, gerente de Internacionalização da CNI.
Uma fábrica de brinquedos no
Brasil, para ter preços menores importava parte de seus produtos da China, mas nesse
ano decidiu mudar de estratégia. “Hoje, quando eu pego um produto, importo ele
da China, eu não posso reexportá-lo. Teria que pagar muitos impostos, e isso
inviabilizaria, além de já ter pago 35% por cento para o produto entrar no
Brasil. Com esse projeto do Paraguai, os produtos que antes seriam feitos na
China passam a ser feitos lá e nos dão a chance de exportação para o mundo
inteiro a custos muito mais baixos”, explica o presidente da empresa, Carlos
Antonio Tilkian, embora não tenha fechado sua fábrica no Brasil.
O que não aconteceu com a
empresária Catarinense Bruna Floriani, ela fechou a empresa que tinha em Santa
Catarina e transferiu todo o negócio para o Paraguai.
“A energia é bem barata, a
mão de obra também, mas é mesmo a questão dos impostos que é bem favorável,
digamos, atrai bastante às empresas para cá”, diz a empresária.
O professor de economia Otto
Nogami, do Insper, disse que os produtos mais baratos são sempre bem-vindos,
mas já a perda de empregos, é a parte ruim dessa história. “Em um momento em
que a taxa de desemprego não para de subir no Brasil, a migração de
investimentos para o Paraguai é motivo de preocupação”.
“Há indústrias que estão
localizadas em determinadas cidades e essas cidades dependem dessa indústria,
principalmente no que diz respeito à geração de mão de obra”, diz o professor.
Outro professor de economia,
Nelson Marconi, da FGV, lembra que o prejuízo pode ser maior do que parece.
“Não vai ser um impacto muito
grande no desemprego, mas pode ser o impacto principal na perda das nossas
indústrias. E quando você perde uma indústria, e como ela demanda matéria prima
de vários outros setores, ela puxa a produção dos outros setores também”, explica
Nelson Marconi.
E o que fazer para o Brasil
não ficar para trás?
“Primeiro é preciso fazer a
reforma, a tão sonhada reforma tributária, que a gente ouve falar muito, mas
que até agora não saiu do papel. Daí, consequentemente, a gente precisa também
de uma reforma trabalhista, porque a legislação trabalhista brasileira é
altamente complexa”, afirma o advogado Murillo Rodrigues.
Hoje o Brasil é o segundo
maior investidor no Paraguai. Fica atrás só dos Estados Unidos, e também é o
principal destino das exportações do país vizinho.