Mato Grosso do Sul tem cerca de dois milhões de hectares onde os métodos da ILP e ILPF são utilizados
Luis Vilela
Foto: Famasul |
Mato Grosso do Sul
colabora de forma significativa com o mercado agropecuário do Brasil. Ao longo
dos 40 do Estado, produtores se preocuparam em desenvolver a agropecuária da
região. Com o 4º maior rebanho bovino do país, o Estado possui quase 21,4 mil cabeças
por ano produzindo aproximadamente 52,3 mil arrobas. Na Agricultura houve
ganhos consideráveis no seguimento internacional, em 1998 o faturamento com
exportação agrícola foi US$130,7 milhões, já em 2016 o valor ultrapassou US$3,8
bilhões, o que representa crescimento de 2.865%.
O Estado é referência na
qualidade de suas carnes e produtos agrícolas. Esse produto final é resultado
de métodos que os produtores sul-mato-grossenses vêm desenvolvendo ao longo dos
anos. Uma das técnicas que tem trazido resultados satisfatórios tanto para o
produtor quanto ao meio ambiente, são as práticas de ILP (Integração Lavoura
Pecuária) e ILPF (Integração Lavoura, Pecuária e Floresta).
A ILP consiste em
desenvolver em uma mesma área, a cultura de lavoura e pecuária. Já na ILPF é
introduzida também a cultura de florestas, como eucalipto e teca. “A ILPF
envolve três componentes na mesma área: componente arbóreo espaçados em 14 a 20
metros, componente capim e agricultura, fazendo intensificação e diversificação
em período do ano com pastagem e outro período com a agricultura, ” explica o
supervisor do Programa Inova Mais do Senar- MS (Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural de Mato Grosso do Sul), Deilton Medeiros.
Quando a associação é
feita de forma planejada e racional, ela aumenta os rendimentos e gera
benefícios ambientais. O conceito de "Agricultura Sustentável" tem
sido amplamente discutido e divulgado, mas para ser realmente sustentável, é
necessário beneficiar a sociedade como um todo. Isso significa que a agricultura
sustentável deve manter ou melhorar a produção, com vantagens econômicas para
os agricultores, sem prejudicar o meio ambiente.
Mato Grosso do Sul tem
cerca de dois milhões de hectares onde os métodos da ILP e ILPF são utilizados,
principalmente na região de Maracaju, município pioneiro no uso da técnica no
Estado há mais de 20 anos.
“Quando se
faz a integração das duas coisas na mesma área é para aproveitar o capim que
estava sendo usada antes apenas como proteção do solo, se você coloca um animal
você tem um ganho a mais. Se antes era uma área que não era ocupada por
animais, e o produtor coloca até três animais por hectare, o seu ganho em
arroba por hectare passa de 5 a 6 arrobas por hectare/ano. E acaba que ele tem
proteção do solo, depois vai dissecar esse capim vai vir com a cultura de soja
e depois milho. Sobre a soja já tem pesquisas que apontam um ganho de 10 a 15
sacas por hectare quando se usa esse tipo de tecnologia, ” destaca Deilton.
O produtor
Jorge Gaete, 52, conheceu o método graças aos programas de integração da Senar
em parceria com o Sindicato Rural de Bela Vista (MS). Proprietário da fazenda
Nelore Birigui, Gaete passou a investir em ILP ao ser apresentado a uma série
de vantagens que a técnica proporciona. Ele contou que os equipamentos
agrícolas necessários ele conseguiu emprestado de um parceiro e que em quatro
anos trabalhando em uma área de aproximadamente 20 hectares viu seus lucros
dobrarem.
Satisfeito
com a prática, o fazendeiro recomenda a outros produtores. “O método é
interessante porque dentro do nosso sistema fazendo a integração, você tem a
melhora do subsolo, tem resíduo de adubo e tem uma pastagem nova. A gente
acredita que, pelo menos, com relação à pastagem normal dobra-se a quantidade
de capim por hectare”, conta. Além do suporte técnico oferecido pela
Senar-MS, os produtores que desejam investir no método também são auxiliados
financeiramente pelo Plano ABC do governo federal, que possui uma linha de
crédito específica para financiar projetos de integração de qualquer tipo, seja
ILP, ILPF ou IPF.
Segundo o
pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Roberto Giolo de Almeida, as integrações
com adoção de plantio direto é uma alternativa para melhorar a eficiência na
mitigação das emissões de GEE (gases de efeito estufa), isso porque
considerando os três componentes: a lavoura em plantio direto contribui com
menor perda de solo e manutenção ou até aumentos discretos da matéria orgânica
do solo, a pastagem bem manejada eleva substancialmente o teor de matéria
orgânica do solo e a árvore fixa grande quantidade de carbono em seu processo
de crescimento. Assim, todos os componentes se bem-arranjados e manejados
adequadamente, proporcionam condições de mitigação de GEEs.
“A pastagem
e o componente florestal apresentam potencial mais elevado de sequestro de
carbono, entretanto, para a pastagem, deve-se considerar que os bovinos são
grandes emissores de GEEs [em especial, de metano] e, portanto, o manejo da
pastagem deve ser adequado para evitar a degradação (perda de carbono estocado
no solo), o que acarretaria em maiores perdas de GEEs”, diz o pesquisador.
Evolução na pecuária de corte ao longo
dos anos
Na pecuária,
por exemplo, os animais eram abatidos de forma mais tardia, com mais de cinco
anos de idade, pois não apresentavam nenhuma genética expressiva e não havia os
cruzamentos entre raças que existem hoje. Segundo o supervisor do Programa
Inova Mais do Senar-MS, Deilton Medeiros, era normal abater animais com mais de
20 arrobas sem acabamento, marmoreio, etc. Outra questão era alimentação, as
pastagens eram basicamente nativas, quando havia alguma formação era à base de
mudas e sem nenhum manejo ou melhoramento. Não havia suplementação para o gado,
apenas fornecimento de sal branco em pastagens sem nenhum manejo.
“Hoje, com o
melhoramento genético, cruzamento industrial e manejo adequado, cada vez mais
são abatidos animais jovens, pesados e com acabamento de carcaça diferenciado,
muitas propriedades utilizando o sistema de pastagem rotacionada, suplementação
no cocho diferenciada para cada categoria o que leva a abater um animal precoce
de um ano com 14 arrobas, trazendo todo marmoreio, suculência e qualidade que
os mercados internacionais mais exigentes desejam”, explica Deilton.