Marielle Franco, ressurgimento da esquerda cai sobre as balas brasileiras

Ativista incansável dos direitos humanos e ativista contra a violência policial nas favelas

Renan Santos

Foto: Marcelo Sayao
Mulher negra, Vítima da violência que ela denunciou. Incansável ativista dos direitos humanos, Marielle Franco, de 38 anos, foi baleada cinco vezes na cabeça na noite de quarta-feira, bem no centro da "cidade maravilhosa".

À esquerda - sua família política - à direita, seu assassinato causa uma reviravolta. "Marielle Franco encarna uma esperança de renovação, numa época em que a maioria dos líderes políticos cariocas está na prisão. 

No local do crime as balas mostram que os assassinos sabiam exatamente a localização da vítima, eles fugiram sem roubar nada. O suficiente para se alimentar as suspeitas de uma “ execução”. "Aqueles que acreditam que as vozes que defendem os pobres e as vítimas da injustiça podem ser silenciadas", reagiu Ivan Valente, membro do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Nascida e criada na Maré, um grupo de favelas muito violentas, onde policiais e traficantes de drogas se enfrentam regularmente, Marielle Franco, uma socióloga, foi reconhecida por seu ativismo para mulheres negras e moradores de favelas, vítimas da violência Policial.
Este assassinato vem em plena intervenção federal decretada há um mês no estado do Rio pelo presidente Michel Temer para lidar com o surto de violência. Feroz contra esta medida, Marielle Franco foi nomeada relatora da comissão criada pela câmara municipal para examinar a ação da polícia, sempre rapidamente criminalizando as favelas.

Geralmente tragédias costumam unir pessoas, e foi isso que o mundo inteiro parou para ver na manhã de quinta-feira: um país dividido momentaneamente unido pelo luto de Marielle. Da Presidência da República aos maiores meios de comunicação; das redes sociais aos principais partidos políticos; todos falaram, inclusive o silêncio dos que não se pronunciaram. A mídia internacional, governos e ativistas ao redor do mundo reagiram retransmitindo a mensagem em solidariedade. Por um momento, Marielle uniu o Brasil aos olhos do mundo.

Marielle também chamou a atenção do órgão da ONU sediado em Genebra que monitora a situação dos direitos humanos ao redor do mundo e, se necessário, procura atuar sobre elas. Relatorias atuam sobre os mais diversos temas, tais como liberdade de expressão, defensores de direitos humanos, racismo, violência contra a mulher e execuções extrajudiciárias. Com frequência, as relatorias trabalham conjuntamente sobre um mesmo caso.

Uma coisa é certa. O sucesso da investigação sobre o caso Marielle vai depender da pressão doméstica e internacional; e exigirá o diálogo de diversos setores do Estado e da sociedade brasileira. O caso ganhou projeção internacional e provavelmente será politizado, como é natural a todas as questões de direitos humanos. 

Governos, organizações e a opinião pública internacional foram cativados pela história desta jovem ativista negra, de origem humilde e que foi, muito provavelmente por causa de sua atividade política, brutalmente assassinada. Se toda crise é uma oportunidade, esta é a oportunidade de o Brasil mostrar a que veio. Graças à Marielle, o mundo todo acompanha agora o drama da intervenção militar federal no Rio de Janeiro. Hoje, Marielle é do tamanho do mundo.



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