João Guanes cursa o oitavo semestre na Uniderp e é um exemplo de vida para professores e colegas de turma
Marcelo Rezende
Foto: Acervo TV Pantanal |
Um comunicador especial. É assim que, aos 49
anos, João Guanes se define. Deficiente visual há 11 anos, ele é acadêmico do
curso de Jornalismo da Uniderp Matriz, em Campo
Grande (MS), e é um exemplo de luta e superação. Cursando o 8º semestre e
estagiando na TV Pantanal como repórter, João esbanja bom humor e sua
independência chama a atenção, apesar das dificuldades que pessoas como ele
encontram no dia-a-dia.
João voltou a estudar após um hiato de 24 anos. O
acadêmico conta que foi apoiado por uma psicóloga e a partir daí, terminou os
ensinos fundamental e médio. Logo depois, ele decidiu cursar Jornalismo.
Questionado sobre o motivo da escolha pela faculdade, ele é enfático. “Não fui
eu quem escolheu o jornalismo; foi o jornalismo que me escolheu”. Ele havia
feito um curso de Rádio Web no ISMAC (Instituto Sul Mato-grossense para Cegos)
e tomou gosto pelo ofício.
O futuro jornalista afirma, com orgulho, que vai
ser apresentador de televisão. “O ensino superior faz com que passemos a pensar
alto, acreditar em nosso potencial e isso é importante, pois pessoas que passam
por este trauma acham que não poderão fazer mais nada e que irão ficar
dependentes de outras pessoas”. Ele ainda complementa que a graduação trouxe
mais coragem, mais força para lutar e que agora ele acredita muito mais no
potencial dele.
João Guanes é muito querido pelos docentes do
curso. A professora Angélica Sigarini, responsável pela disciplina de
Telejornalismo e pela programação da TV Pantanal, onde ele faz estágio, rasga
elogios para o pupilo. “No início, havia a preocupação em como atender da
melhor forma o João, mas ele é tão independente e dedicado que surpreende. Nas
aulas de Telejornalismo, ele participa, faz todas as atividades e é um ótimo
aluno. Como não tem a visão, ele decora os textos e grava para a televisão com
uma naturalidade incrível”.
Foto: Acervo TV Pantanal |
Entre os colegas não é diferente. Felipe Copat,
colega de turma de João Guanes, relembra do primeiro contato. “No primeiro dia
de aula, ele me chamou a atenção. Nós que enxergamos às vezes damos limites a
nós mesmos e o João ali estudando Jornalismo. Ele sempre brincou o próprio
problema e hoje, conversando com ele, a gente até esquece que ele é deficiente
visual. A turma nunca teve problema de relacionamento com ele e é muito querido
por todos”. Felipe reconhece o empenho do companheiro de sala. “Ele é um pai de família, um trabalhador que sai
de casa e faz tudo como uma pessoa normal. Algumas pessoas acham, que por
alguém ter uma deficiência, está condenado a não fazer nada e o João é um
exemplo vivo de que se pode tudo com foco e determinação”.
Hoje é dia 21 de setembro, quando é celebrado o
“Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência”. No ambiente acadêmico,
encontramos outros “Joões” que com garra e determinação, através da educação,
modificam o meio onde vivem e, principalmente, mudam a própria vida. Onde antes
poderia existir baixa autoestima e comodidade, agora existe esperança em
construir um futuro melhor.