A maior
parte dos suicídios ocorre com jovens de 15 a 29 anos, segundo OMS
Renan Santos
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Por traz do comportamento suicida há uma combinação de fatores Reprodução/Internet |
A
conscientização sobre a prevenção do suicídio é muito forte no chamado “Setembro
Amarelo”, mês em que o assunto é tratado com mais ênfase, esclarecendo, conscientizando e estimulando a prevenção,
para reverter os danos da doença do século 21.
E como explica o psiquiatra Dr. Kleber Meneghel Vargas ocorreu um
aumento de suicídios entre jovens, o que é muito preocupante. “Houve uma
aumento em torno de 10% nos últimos anos. Associado a isso Mato Grosso do Sul
tem índice de suicídio para cada 100 mil habitantes, que é maior que a média
nacional” destaca.
Os casos de
suicídio aumentaram mundialmente, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
No Brasil, a população mais afetada tem de 15 a 29 anos, uma estimativa que
chegou a 5,6 suicidas a cada 100 mil habitantes, em 2014.
“Nós, no
Mato Grosso do Sul, ocupamos o segundo lugar em números de suicídios. Principalmente
pela questão dos indígenas da cidade de Dourados, onde o índice entre esses
jovens é bastante alto, o que acaba aumentando a média de Mato Grosso do Sul,
em relação aos demais estados do Brasil”, aponta o psiquiatra.
Para Vargas a causa do suicídio é, principalmente, o desconhecimento sobre
os sintomas, que na maioria das vezes são difíceis de serem reconhecidos.
“Sobre os sinais de alerta é importante lembrar que normalmente há certa
ambivalência entre querer morrer ou não, e mesmo naqueles casos onde houve o
suicídio, dificilmente você encontra alguns sinais como isolamento social,
tristeza, ou o uso da mídia social para ‘poder desabafar”, menciona.
Outro fator
importante é o apoio dos familiares e amigos. “Alguns comentários como dizer
para os amigos mais próximos, ou familiares, que não aguentam mais viver, que
pensam em morrer; esses tipos de mensagens precisam ser levados muito a sério”,
complementa Vargas.
O psiquiatra
ressalta ainda a importância da mensagem contra o suicídio ser comunicada. “A
imprensa tem um papel muito importante com relação ao suicídio, porque do
contrário que se pensa, falar de forma adequada, dar informações e dados,
amenizam esses casos”.
Ilza
Arruda, atendente social de 37 anos, percebeu a necessidade de falar sobre o
assunto. Ele afirma que a vergonha, o desconhecimento e o desinteresse das
vítimas, de seus familiares e amigos em tratar o problema são catalisadores que
precisam ser combatidos.
“Muitas
vezes, familiares e amigos não reconhecem os sinais de que alguém querido vai
tirar a própria vida. Aliás a própria vítima não entende que precisa de ajuda e
acaba se afundando cada vez mais em uma solidão desesperadora e por isso é
preciso falar sobre suicídio e discutir a depressão abertamente” aponta Ilza.
A
atendente social ressalta que a atitude de amigos e familiares pode afetar
positivamente ou negativamente no tratamento com uma pessoa que convive com a depressão.
“Minha mãe me pressionava para ir à escola. Dizia
que eu tinha que superar e que aquilo era uma fase. Amigos mais próximos
entendiam minha tristeza como uma frescura e que eu tinha que parar de ficar me
fazendo de vítima com relação a isso, e foi aonde eu tive meu primeiro pico de
depressão” lembra Ilza.
“Eu não
entendia o que era uma depressão e nem imaginava que aquilo poderia me afetar tanto,
mas cheguei a um ponto onde eu não tinha mais ânimo para nada, não queria
frequentar a escola, muito menos sair de casa, só queria ficar isolada.
Sentia-me uma pessoa completamente inútil, e minha família não sabia lidar com
essa situação” completa.
Como uma
sobrevivente, que conseguiu se reerguer com apoio de amigos da igreja, ressalta
a importância de buscar ajuda. “A campanha setembro amarelo é muito importante
para mim e é preciso que outras pessoas também tomem conhecimento de que elas
não estão sozinhas, que existem linhas de assistência como o Centro de
Valorização da Vida (CVV), com atendentes que estão ali para te ajudar, te
instruir e te conectar com profissionais especializados”, disse.
“A partir disso eu comecei a trabalhar a minha cabeça, e procurei saber
mais informações sobre o que era a depressão, causas, sintomas e tratamentos.
Com todas essas informações foi aonde dei início ao tratamento com um
psiquiatra. Atualmente eu me sinto curada, bem comigo mesma”, finaliza.
Psicóloga, Bruna Dequeche dá dicas
que ajudam a entender os sintomas e comportamentos que uma pessoa com
depressão, que se encaminha para uma tentativa de suicídio, pode apresentar. “Por
traz do comportamento suicida há uma combinação de fatores, biológicos,
emocionais, socioculturais, religiosos, ou seja, é uma junção de elementos que
podem levar a pessoa a cometer a morte”.
“Nem todos conseguem ajudar uma
pessoa que tem pensamentos suicidas, porque muitas das vezes não percebem que
alguém próximo está se encaminhando para esse possível ato. Por isso a
importância de estar sempre atento às mudanças da fala e do comportamento das
pessoas que estão a sua volta, para poder conversar, auxiliar e buscar ajuda
com um profissional da saúde mental”, acrescenta.
Finalizando, lembra ainda a
importância de pedir ajuda. “Se você pensa, ou já pensou em cometer suicídio, é
muito importante você conseguir se abrir com as pessoas que estão mais
próximas, falar o que está acontecendo, o que já pensou ou pensa em fazer em
relação a esses problemas, e claro que se é algo que está incomodando, que está
fazendo sofrer no dia-a-dia, tem que buscar ajuda profissional, os psicólogos,
psiquiatras estão ai para ajudar, orientando, trabalhando técnicas e formas
para conseguir lidar com essa situação da melhor maneira possível”.
O Centro de
Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio,
atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam
conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
Informações e atendimentos são feitos pelo telefone 188.