A festa no dia de São Cosme e São Damião é das crianças, mas as mães também participam
Andrea Patino
Foto: Andrea Patino |
A tradição de distribuir
saquinhos de doces no dia de Cosme e Damião começa no dia 26 de setembro quando
é celebrado pelos católicos e se estende até o dia 27, data em que é comemorada
pelos simpatizantes e praticantes do
candomblé que fazem suas homenagens aos orixás protetores das crianças.
Esta diferença entre as datas existe porque, na mística do candomblé,
os santos se diferenciam substancialmente da simbologia católica, muito embora
compartilhem histórias semelhantes e até as mesmas imagens, fenômeno decorrente
do sincretismo religioso. Os
fiéis consideram São Cosme e São Damião padroeiros dos médicos, cirurgiões e
farmacêuticos por terem estudado medicina.
A alegria da criançada
Foto: Andrea Patino |
Ô trem bom esse suspiro”, disparou Kauã, de 11
anos, com a boca lambuzada e os olhos voltados para saquinhos repletos de
maria-mole, pé de moleque, balinhas, chicletes e pirulitos. Morador do Bairro
Taquarussu, ele
sai pelo bairro e redondezas em busca dos doces que são distribuídos
por moradores para lembrar o dia de São Cosme e São Damião, padroeiros dos
médicos e das crianças.
“É um dia muito legal para as crianças, saio com eles todos
os anos para pegar doces e garantir a segurança, já é uma tradição” admitiu
Adriana Dos Santos toda feliz com seus saquinhos recheados de doces, e ainda brinca: - Se você
não sofre de diabetes e não tem problemas com glicose alta, pode me acompanhar. As guloseimas são entregues por devotos
dos santos ou cumpridores de promessa. A tradição é seguida à risca todos os
anos por fiéis católicos e de religiões de matrizes africanas.
Entenda a diferença
Para os católicos, segundo a tradição, no Século III, Cosme e
Damião nasceram na Ásia, em um contexto de forte repressão religiosa do Império
Romano. “Foram dois jovens considerados médicos, que faziam o bem a quem
precisasse, principalmente às crianças, sem esperar nada em troca. Por isso, os
católicos têm a devoção de oferecer às crianças saquinhos de doces, pois eles
representam gentileza e caridade. Eles foram sentenciados à morte pelo imperador
romano Deocleciano por volta do ano 300 d.C., em razão de professarem a fé
cristã e, desde então, passaram a ser considerados mártires do cristianismo.
No
Candomblé e Umbanda, são conhecidos como os orixás Ibejis. Orixás africanos que
também eram irmãos gêmeos e que atendiam de graça em troca de doces e
brinquedos. Há o costume de fazer caruru (uma comida típica da tradição
afro-brasileira) e distribuir para as crianças. Eles têm como características
crianças bem levadas e no caso de promessas descumpridas, prega travessuras e
podem reverter os pedidos. Segundo a mística, um dos irmãos gêmeos morreu
afogado e, desolado, o outro irmão pediu para também ser levado.
“No caso do catolicismo, Cosme e Damião são mártires. No candomblé,
são referências aos orixás Ibejis. Em comum, ambos são apresentados como irmãos
e têm outras semelhanças, porém as diferenças também são determinantes”,
explica Pai Nino D Osumarê, da Federação de Umbanda e Candomblé. E ainda completa:
- "Os dois são representados pelas mesmas imagens, mas são representações
diferentes".