Amigo de todos, comentarista polêmico e pai amado. Uma pessoa cinco estrelas
Elaine Silva
Muitos se lembrarão do sol forte que a capital recebeu no dia 09 de setembro, mas os apaixonados por futebol se recordarão do dia que Deus recolheu o centroavante, o amigo, o pai e companheiro. Nesse dia Osmar Alves Côco-Coquinho deixou um buraco nos corações da família, do Esporte Clube Comercial e de muitos amigos.
Foto: Acervo Ricardo Paredes |
Quem
olhava de longe tinha a impressão de uma cara de poucos amigos, mas quem dava a
liberdade de conhecê-lo descobriria um amigo brincalhão que tinha paixão por
comida e que nunca deixava de ir ao CEASA (Centrais
de Abastecimento de Mato Grosso do Sul), “Ele adorava ir ao CEASA, ele foi mais
de 25 anos, era um refúgio dele, porque ele chegava lá e todo mundo conhecia o Coquinho,
sabia quem era, respeitava, ele chegava pegava fruta ia comendo e tomando café,
um colega meu tinha uma barraca lá e ficava olhando meu pai”.
“Ele chegava pegava uma maçã de um comia, mexerica do outro, comia
uma banana no outro e ninguém falava nada, todo mundo brincava com o Coquinho e
ele tirava onda com as pessoas, então ele sempre foi muito bem querido assim, viveu
muito bem”, relata Thiago Glajchman Côco.
Além de empresário e ex-jogador Coquinho também era um
excelente comentarista na companhia de Ricardo Paredes e Paulo Mansano da Rádio
Difusora Pantanal. Tudo começou quando ele foi ao estádio prestigiar seu filho
Pedro Guilherme Glajchman Côco, que na época jogava pelo Operário disputando o
Sub-20. O convite para fazer o comentário do jogo foi feito por Ricardo Paredes,
que era reporte de campo e Marcos Silvestre, que era o narrador, desde então
Coquinho não largou mais o ramo.
Entre o trabalho e a amizade, há mais de 10 anos cultivava grande
companheirismo com Paredes. “Cheguei a ter amizade com ele a partir do momento
em que nós começamos a trabalhar juntos aqui na rádio em 2006. Começou com ele
comentando um jogo no morenão como convidado, depois ele gostou da coisa, ai
começou a frequentar o estúdio da emissora e acabou virando o nosso
comentarista durante 10 anos. Ficamos um longo tempo aqui”, disse Paredes.
Para Paulo Mansano a história ocorreu diferente, “Eu tenho
amizade com Coquinho desde que ele chegou a Campo Grande, na época que ele
jogou no Comercial, então de 1977 pra cá. Nessa época éramos colegas, depois
com a convivência vindo pra rádio junto com ele, ficamos amigos”. Já para
Manoel, funcionário na empresa de ramo alimentício “Feijão com Arroz”, não era
uma simples convivência de patrão e funcionário era uma amizade de
aproximadamente 26 anos: “Nossa relação era muito boa, éramos amigos. Na
empresa ele tinha confiança em mim de tudo”.
Segundo Ricardo “Coquinho era um cara pra frente, divertido
todo mundo gostava de ter ele junto por ser um cara companheiro. Ele era amigo
mesmo não deixava agente na mão. Quando ele não podia ou não participava do
nosso programa na TV todo mundo ficava perguntando, cadê o Coquinho? Ele sempre
estava disposto, sempre vinha. Ele não abandonou o barco nesses 10 anos.”
Já para Paulo Mansano, “Coquinho também ajudava a diretoria
do Comercial como eu ajudo e aqui na rádio. Ele era polêmico, ele discutia,
contrariava o que eu falava o que o Ricardo os outros meninos aqui, mas saia
daqui com aquela amizade boa, companheiro. Ficávamos uma ou duas horas
conversando debaixo daquela mangueira.”.
Foto: Facebook Esporte Clube Comercial |
Em nota o Presidente do Esporte Clube Comercial disse, “Não
conheci o Coquinho como jogador, apenas como locutor e cronista esportivo, ele refletia
bastante sobre os tempos áureos do futebol sul-mato-grossense. Em comparação
com o momento atual era sempre ponderado, às vezes cometia alguns equívocos nos
seus comentários, mas nada que ofendesse ninguém”.
“Como pessoa era um amigo, que sempre ajudou o Comercial
mesmo discretamente. Na ultima competição ele foi um “patrocinador” informal, ele
que fornecia alimentação do técnico e do goleiro do comercial que estavam
morando em um apartamento juntos. Então todo dia ia pegar a marmita e ficávamos
conversados sobre o nosso futebol, nossos clubes e dificuldades. Ele foi acima
de tudo, um amante do esporte e do futebol, um abnegado que ainda acreditava no
ressurgimento do futebol de Mato Grosso do Sul, acho que os dirigentes têm que
conseguir isso para honrá-lo.”, relata Ítalo Miihomem.
Há historias que ninguém imagina sobre Coquinho como seu
nome, por exemplo. Segundo relato de seu filho Thiago o nome do pai não era pra
ser Osmar Alves Côco e sim Gilmar Álvaro. A mãe de Coquinho tinha entregado um
papel com o nome ao pai dele, não se sabe como ele perdeu o papel, só que ele
não podia voltar pra trás, pois a mulher era muito brava e se ele voltasse ela
iria brigar e ele não iria voltar e falar que tinha perdido.
Ele foi para o cartório só que ele não lembrava o nome que
estava no papel, pelo que parece fez uma junção dos nomes e falou que achava
que era Osmar Alves. Ninguém da família tem o nome Alves, eis que ficou um nome
composto, quando a mãe de Coquinho descobriu queria matar o marido, mas não
tinha o que fazer.
Coquinho era à frente de seu tempo. Lançava modas em campo e
uma delas foram as chuteiras. Antigamente as chuteiras eram apenas de cor preta e ele pintou de branco, só que
choveu e ficou uma chuteira branca e uma preta. Além das chuteiras ele tinha
seus gols temáticos, ele sempre inventava algum nome para os gols, em um dos
seus últimos gols ele declarou ao seu filho Thiago que relata emocionado o
gesto pai.
“Tem um vídeo muito bonito e eu tinha recém-nascido, ele estava
no final da carreira e meteu um gol aqui no morenão. Ele ajoelhou mandou um
beijo para a torcida. Imagino que eu e minha mãe estávamos naquela direção. Na
época passava os gols no jornal da noite, apareceu minha carinha em uma foto
com a legenda “Obrigado papai!”.
Apesar de ser um ex-jogador Coquinho nunca pediu para que os
filhos seguissem seus passos na carreira. Ele deixou que eles mesmos decidissem
seu futuro. Thiago é formado em Publicidade e Propaganda e Pedro Guilherme em Educação Física.
O único filho que durante um tempo seguiu a carreira de
jogador foi Pedro Guilherme, influenciado pelo pai, mas nunca foi algo imposto
por Coquinho, tanto que Pedro relata, “Na hora que eu não queria mais, ele
conversava não quer não quer, vem pra cá trabalhar e se quiser continuar
tentando por mais tempo tenta”.
“Nunca foi uma coisa imposta, sempre gostei de jogar futebol,
de viver no meio de futebol, eu nunca fui pressionado para isso muito pelo
contrario, eu fui muito mais induzido a assumir a empresa, mas não a jogar bola
o tempo que eu joguei, que foi até os meus 22 anos. Foi sempre porque eu quis,
porque eu achava legal, eu acreditava que tinha potencial.”, disse Pedro
Guilherme.
Após encerrar sua carreira de jogador, algumas vezes jogava
uma pelada com os amigos e os filhos. Em uma conversa Thiago revela
descontraído: “É engraçado, porque ele estava gordão na época, machucado, mas
mesmo assim ele fazia gol e saia pra torcida e gritava e comemorava. Era
divertido demais, era engraçado”.
Foto: Acervo Ricardo Paredes |
“Teve uma vez que eu estava jogando na lateral e devolvi a
bola para o goleiro e tomamos um gol, ai ele: “Poxa, não faz isso cara ta maluco!”.
Quando nós três jogamos juntos era engraçado, porque meu pai era o jogador, o
Pedro era o bom e eu era o ruim, só atrapalhava os outros.”. Descontrai Thiago.
Mas quem pensa que era fácil jogar com ele se enganou, “Teve
uma vez que fizemos uma pelada lá no radio clube, ele era centroavante e eu
zagueiro, cara eu fui marcar ele, antecipar ele e ele me deu uma cotovelada no
peito como se eu fosse um adversário qualquer ai ele falou não é assim não
filho. É pra você aprender, aqui é diferente”, disse Pedro Guilherme.
As homenagens a Coquinho serão intermináveis, ninguém
imaginava que seria de uma forma tão gigantesca, por sua facilidade de se
comunicar com as pessoas ele deixou um carinho a ser preenchido. “É tudo muito
estranho, agente cresceu todo mundo sabendo que meu pai era famoso, agente
cresceu com isso, então meio que você cresce acostumado com isso”.
“Até hoje agente se surpreende com a moral que ele tem em
determinado lugar com o quanto ele é bem visto, com a quantidade de pessoas que
estavam no velório, a quantidade de coroas de flores que mandaram para ele, a
quantidade de pessoas de todos os níveis sociais, porque meu pai tinha essa
facilidade,ele ia do ‘A ao Z’ sem problema nenhum,ele transitava em todas a
esferas naturalmente,ele era muito bom nisso” salienta Thiago.
“As pessoas sentem a falta dele. Ninguém passava despercebido
pelo Coquinho, ninguém era imune ao Coquinho, no sentindo de ser tocado por ele,
lógico ele era polêmico. De vez em quando ele arranja uma confusão aqui outra ali,
nas opiniões dele, mas mesmo assim ele era muito mais querido do que agente
imagina” complementa Thiago.
“Ele é impar! Não canso de falar que ele é impar. Ele era
muito carismático, muito humano. Era muito amigo, um amigo dos amigos. Com ele
não tinha essa de se ele gostava ele gostava e se não gostava, ele também falava
e a vida que seguia. Ele tinha a opinião dele, se as pessoas não aceitassem não
teria problema. Não é porque você não aceita minha opinião, que eu não gosto de
você. Ele gostava de todo mundo. É um acalanto ver que ele era tão amado assim.”relata
emocionado Thiago.
Além de ótimo jogador era bom em promover os jogos, sempre
chamando à torcida para ver seus gols, que nem sempre saia segundo seu filho
Pedro Guilherme, foi um dos maiores artilheiros e demorou 20 anos para que
alguém superasse. Tendo paixão por futebol e comida, Coquinho passava seus dias
cozinhando tanto na empresa quando em casa.
O amigo para todas as horas, um excelente jogador, um pai herói,
um amante de comida e um companheiro, esse foi Osmar Alves Côco que deixara
saudade com seu jeito irreverente, com suas polêmicas, com seu respeito, seu
amor ao próximo. Ele ensinou muitas lições aos filhos, divertia todos com suas
histórias, um amante por futebol, e se foi com a revolta de não poder ver o
futebol como era antigamente.
Foto: Facebook Ricardo Paredes |
Era o homem que sempre tomava café com os filhos, que todo domingo
reunia a família para um churrasco, que sempre estava presente. Era honesto,
respeitador, amigo uma pessoa divertida que deixa a saudade em vários corações
e inúmeras lembranças, desde seu cabelo ao seu sorriso, e assim se foi Coquinho
o comentarista do povo, o comentarista cinco estrelas, com coquinho em campo
não tinha placar em branco.