Inovação na agropecuária: startups do MS criam plataformas que conectam o campo e a cidade


As soluções encontradas pelas startups estão revolucionando as produções rurais

Alexander Vieira


Foto: Divulgação/Agrointeli.
Se há alguns anos o acesso a uma ferramenta que fosse capaz de reduzir perdas na aplicação de produtos na lavoura, e ainda minimizar os impactos ambientais, parecia estar distante, hoje já não está mais. A coleta de dados no campo já é transformada em mecanismos inteligentes que servem para o planejamento e a tomada de decisões no setor do agronegócio.

Produzir mais, e com maior sustentabilidade, é uma das soluções apresentadas pelas startups, que se consolidam cada vez mais no mercado rural sul-mato-grossense. Essas empresas investidoras em tecnologia e pesquisa apresentam ideias inovadoras que facilitam a vida de quem produz no campo através de softwares e aplicativos de gerenciamento. As ferramentas se fazem presentes em maquinários, implementos agrícolas, na plantação de sementes e nos insumos em geral. É a chamada Agricultura 4.0. Essa agricultura inteligente usa a tecnologia a favor do produtor, e serve principalmente para gerenciar os negócios no meio rural.

Em Mato Grosso do Sul, a Agrointeli, startup voltada exclusivamente ao agronegócio, desenvolveu uma plataforma agronômica que mantém produtores e consultores informados de suas atividades no campo em tempo real usando a informação digital. 

“A Agrointeli veio para integrar todos os dados coletados no campo em um único sistema. Além disso, a plataforma oferece dados que avaliam as variáveis climáticas, como previsão de tempo hiperlocal, as variações da velocidade do vento, temperatura, pluviometria de hora em hora na região. Isso é importante para o produtor conseguir planejar o melhor horário de entrar com o maquinário para fazer uma aplicação, já que o clima influencia na eficiência dessa aplicação. Isso serve para ele não ter o transtorno de perda e ter que redobrar o trabalho, que tem profunda significância nos custos”, destaca a engenheira agrônoma, Aline Sandim.

Foto: Divulgação/Renato Borges, criador da Agrointeli.
A plataforma elaborada auxilia nas decisões a fim de que o produtor tenha decisões mais assertivas. “A gente trabalha com mapas NDVI (Normalized Difference Vegetation Index), que servem para avaliar a sanidade do vegetal, se houver, por exemplo algum tipo de anomalia, doença, praga ou qualquer outra coisa que esteja afetando aquela vegetação, isso se faz muito importante para que ele otimize o tempo e saber exatamente onde está o problema. Humanamente é impossível conseguir estar em todas as áreas o tempo inteiro, então o produtor consegue detectar onde ele está”, destaca Aline.

Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups), apresentou que existem mais de 12 mil startups no Brasil. Em Mato Grosso do Sul são 87, sendo que 71 estão na capital.
A premissa desse novo modelo visa oferecer soluções para o produtor rural, ou para o profissional que presta consultoria, de forma que a organizar todos os dados dentro de uma única propriedade. 

“Muitos dados relacionados as atividades de uma propriedade rural, como dados de plantio, dados de colheita e pulverizações, ficavam perdidos em inúmeras planilhas anotadas a mão ou em cadernos. Uma fazenda não deixa de ser uma empresa, e toda e qualquer empresa precisa de gerenciamento”, destaca Aline.

Foto: divulgação/Agrointeli
Outra startup de destaque no estado é a desenvolvedora de aplicativos Jera. A empresa atua em diversos nichos, dentre eles o agronegócio. Ferramentas como AgroBrazil e Rastrovet são alguns dos que já foram desenvolvidos.

“Através dos aplicativos é possível controlar diversos equipamentos, como drones, que fazem o mapeamento de área a fim de conseguir identificar onde está o gado ou uma falha na plantação, por exemplo. Muita gente, quando pensa em agronegócio, lembra de uma fazenda com uma casa de madeira, o fazendeiro andando a cavalo, e por aí vai. Na verdade não é mais assim. O cenário mudou muito”, explica o desenvolvedor de aplicativos, Djavan Loureiro, que já foi P.O (Product Owner) de outros aplicativos, como Agroplot e Agropocket voltados ao agronegócio.

O desenvolvedor conta as facilidades alcançadas, que vão desde o cadastramento de negócios através do aplicativo, até negociações com grandes empresas, como frigoríficos. “O AgroBrazil é um dos aplicativos que elaboramos que é voltado para investidores em commodities agropecuárias. Nosso foco principal é o gado, milho ou soja. O pecuarista fica por dentro do preço da cabeça do gado na região de seu interesse ou, se preferir, em todo o Brasil. É como se fosse uma bolsa de valores. Ele verifica o melhor momento de vender o gado, e até verifica se o preço que está sendo oferecido é justo ou não. Esse aplicativo até conta com uma linha do tempo onde os usuários comentam as publicações, parecido com uma rede social. Mas o nosso foco é outro no momento. A gente busca fazer com que os usuários publiquem as informações que são relevantes aos demais”, explica.

Foto: Aplicativo AgroBrazil


A empresa foi fundada em 2010 por um grupo de sócios e se destaca pelo desenvolvimento e competitividade no mercado. “O programador vê o cenário favorável em questão de agilidade. Outro dia eu estava vendo um produtor controlando uma máquina colheitadeira através de sensores, e ele conseguia ter acesso e fazer ajustes remotamente pelo celular. Ou seja, não precisava de ninguém dirigindo. Eu vejo que o agronegócio vai crescer muito mais, ainda mais porque esse setor sempre tem altos investimentos. Os investidores conseguem visualizar os benefícios a longo prazo”, comenta.

Foto: Divulgação
“Suponhamos que o produtor tenha uma fazenda muito grande e quer testar vários tipos de sementes. Ele vai dividir esse campo em vários quadrantes através do GPS, onde ele mapeia o local inserindo no aplicativo, assim ele consegue identificar cada quadrante fotografando, e documentando o andamento daquele quadrante. Com isso ele consegue verificar a evolução do plantio ao colocar as informações de metragem, qual tipo de semente e adubo, e o defensivo agrícola. O Rastrovet é voltada para gestão animal. Nele é possível mapear a vida do animal, como vacinas e peso, através dos brincos implantados desde o nascimento até o abate. Quando o produtor desejar vende-lo, será possível conseguir verificar o histórico dele”, diz.


Foto: Djavan Loureiro é Product Owner da Jera.
Quando o aplicativo é elaborado para uso dentro da fazenda, Djavan explica que o cuidado é maior, pois sempre se faz necessária uma versão off-line. “É uma das coisas que trava alguns recursos nos aplicativos para uso dentro da fazenda. Muitas pessoas acreditam que o aplicativo voltado para o agronegócio funciona em todos os lugares. Mas imagine dentro da fazenda, lá nomeio do Pantanal, sem sinal de celular, sem nada. Mas essa é única coisa que atrapalha a questão da fazenda com a cidade, que são alguns lugares não têm sinal de celular, mas isso já está mudando. Tomamos os cuidados necessários quanto a localização em que o aplicativo será o usado, porém a versão off-line torna o aplicativo mais caro, mas dá uma segurança bem maior para o fazendeiro e para o cliente que está encomendando o aplicativo. Um cuidado que temos é dar uma mapeada no público para podermos identificar quem realmente vai usar. Só não aproveita do agro, através do uso de aplicativos, quem não quer, porque tem para todas áreas”, destaca.


Futuro no agronegócio

O setor do agronegócio move a economia de Mato Grosso do Sul. O Estado tem um dos maiores rebanhos bovinos de porte do Brasil, e é um grande produtor de soja, milho e algodão. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o setor representa 21,6% do PIB nacional.
Startups como a Agrointeli e a Jera criam meios para soluções que ajudam o produtor a tomar as melhores decisões dentro da própria empresa.

A Agrointeli participa do startup Chile, que é uma aceleradora do governo chileno. Hoje está presente em doze estados brasileiros, fechando em agosto de 2019 em 170 áreas monitoradas. O software é uma idealização do engenheiro e mestre em computação Renato Borges.

A demanda na criação de aplicativos é grande e pode ser atribuída ao fato da nova geração de filhos e netos de fazendeiros, e também os agrônomos recém-formados. Esses, por sua vez, estão mais familiarizados com esse tipo de tecnologia que avança cada vez mais na cidade e também no campo.