Suporte do Sistema Famasul contribui para o crescimento da apicultura em MS

 

Por Hanelise Brito

Foto: Sistema Famasul

Segmento em expansão em Mato Grosso do Sul, a apicultura vem ganhando destaque ao longo dos anos no Estado. Dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que em 2020, MS produziu 984.009 kg de mel e faturou R$ 11,59 milhões, se figurando como o maior produtor de mel do Centro-Oeste.

Algumas instituições vêm contribuindo para o aumento da atividade responsável pelo trabalho de polinização. Uma delas é o Sistema Famasul por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso do Sul (Senar/MS) que disponibiliza aos produtores rurais o Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) em Apicultura, orientando sobre manejo do apiário, produção e processamento dos produtos apícolas, levantamento de custos de produção e regularização da atividade dentro dos órgãos de controle.

“Com a ATeG, os apicultores recebem um acompanhamento mensal, onde são orientados a adotarem as melhores práticas para produção de acordo com a sua realidade. Além disso, o gerenciamento da atividade é realizado juntamente com o produtor, para que ele entenda as despesas e receitas envolvidas na atividade. Assim, o apicultor pode visualizar quanto custa para produzir cada quilo de mel ou saber quanto está tendo de lucro”, explicou o biólogo e técnico do Senar, Marcos Wolf.

Wolf afirma ainda que a apicultura é uma atividade enquadrada nos três pilares da sustentabilidade, sendo ecologicamente correta, economicamente viável, e socialmente justa.

 “A apicultura é uma atividade, que se bem conduzida, pode trazer um retorno financeiro em pouco tempo. Não há necessidade de possuir propriedade para desenvolver a atividade, os apiários podem ser instalados em áreas arrendadas, podendo até se praticar a apicultura migratória, onde os apicultores mudam os apiários de propriedades ao longo do ano para aproveitar floradas distintas e ter uma maior produtividade”, ressaltou.

O técnico em agropecuária e apicultor Jair Terra é um dos assistidos do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) em Apicultura. Ele começou na atividade há dois anos e conta que é preciso interesse e muito estudo sobre a morfologia das abelhas.

“Tenho uma pequena propriedade em Terenos e sempre quis isso. Mas por longos anos vim adiando, tomei coragem há dois anos e fiz meu primeiro enxame, capturando da natureza, mesmo sem muito conhecimento prático, mas atendendo os princípios de recomendação técnica”.

Logo depois, o apicultor foi indicado a participar da ATeG, que trouxe novos conhecimentos e aprimorou seu trabalho no apiário. “Me desafiei a entrar no programa, pois eu tinha uma expectativa de trabalhar da forma mais técnica possível, e a assistência melhorou muito a minha relação com a atividade. As boas práticas da apicultura estão vindo por meio do Senar, o técnico que me assiste é especialista na atividade e isso é para mim é fundamental”, disse.

Apaixonado pela apicultura, ele declara que mergulhou na atividade e colhe bons frutos. “No meio rural nós estamos acostumados com a criação de animais vertebrados, mas com as abelhas é bastante diferente, conhecendo um pouco sobre elas vem o encantamento que nos faz mergulhar na atividade. No meu caso, o maior interesse não foi financeiro, mas a prática da apicultura com boas técnicas resulta em um bom retorno econômico”, destaca. 

Receita no Estado

PRODUÇÃO E RECEITA DE MEL DOS ESTADOS DO CENTRO-OESTE

ESTADO

PRODUÇÃO (kg)

RECEITA (R$)

Mato Grosso do Sul

984.009

11.593.000,00

Mato Grosso

536.552

12.973.000,00

Goiás

327.317

8.133.000,00

Distrito Federal

21.944

658.000,00

Total

1.869.822

33.357.000,00

Fonte: IBGE, 2020.

Dos 984.009 kg de mel produzidos em MS, o município de Jardim foi o responsável pela maior parte com uma produção de 91.580 kg, seguido de Três Lagoas com 68.390 kg e Dourados com 60.788 kg.

Segundo o secretário executivo da Câmara Setorial da Apicultura e Meliponicultura de MS, Orlando Serrou Camy Filho, três fatores contribuíram para o crescimento da apicultura no Estado. “O preço do mel está em constante elevação desde 2020, além disso, há um aumento de grupos que recebem assistência técnica do Senar e da Agraer. O crescimento orgânico também é um dos fatores, pois os novos produtores são incentivados pelo desempenho de quem está na atividade há mais tempo”, afirmou.

A meta da Secretaria de Produção, Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Agricultura Familiar (Semagro) é aumentar a produtividade de mel em pelo menos 10% em 2022. Até março deste ano, o número de apicultores cadastrados junto a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) já somava 1.097.

Para Orlando Serrou, a apicultura seguirá ganhando destaque em MS nos próximos anos. “Acredito que a apicultura terá ainda mais destaque, pois temos todas as condições ambientais e de industrialização. Nosso atendimento de assistência técnica segue sendo ampliado para capacitar os apicultores, a fim de obter melhoria na produtividade e qualidade”, comentou.

Estratégias – O técnico do Senar, Marcos Wolf, acrescenta que diversas estratégias podem ser adotadas para melhorar a produtividade das colônias de abelhas. São elas:


Segundo ele, no período de entressafra não há oferta de recursos em abundância na natureza e as colônias demandam mais atenção do produtor, por isso a necessidade de adequar os espaços internos das colmeias segundo o porte das colônias, para que haja um menor gasto energético pelas abelhas. “Em alguns locais, há também a necessidade de suplementação com alimentação artificial para manter as abelhas fortes e bem nutridas e estimular o desenvolvimento das colônias”, explicou.

“A troca de rainhas também é importante, pois colônias com rainhas novas tendem a ser mais populosas e consequentemente, mais produtivas. Outro fator importante é a adequação do número de colônias por apiário. Isto é realizado através do mapeamento do pasto apícola, onde o número de colônias é estimado de acordo com a capacidade de suporte do ambiente”, completou.

O impacto da apicultura no meio ambiente – Além de gerar renda, a atividade apícola possui um papel importante no meio ambiente e garante uma função essencial na alimentação humana. A zootecnista e gestora de desenvolvimento da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), Jovelina Maria Oliveira, explica que as abelhas são responsáveis pela polinização de quase ¾ das plantas que produzem 90% dos alimentos do mundo.

“Um terço da produção mundial de alimentos depende das abelhas, ou seja, a cada três colheradas de comida, uma depende da polinização. Isso sem levar em consideração toda a produção de mel, que serve não apenas para o consumo alimentício, mas para a preparação de medicamentos e cosméticos”, pontuou.

A criação de abelhas também propicia sustentabilidade agrícola. As abelhas ao pousar de flor em flor, usam os pêlos que possuem em seu corpo para coletar o pólen, que posteriormente transportam para outras flores. Assim, elas misturam o material genético das plantas, garantindo uma maior variabilidade e, possivelmente, maior resistência contra pragas e outros insetos predadores.

Para a zootecnista, as abelhas também estão ligadas a manutenção da biodiversidade. “São animais extremamente sensíveis às mudanças de ambiente e temperatura. Elas são, portanto, indicadores de biodiversidade, uma forma de medir a saúde de um lugar ou do planeta”, finalizou.